Por que casais não podem investir juntos, mas devem organizar as finanças em dupla?

O planejamento financeiro a dois está entre os principais passos para aqueles que buscam um relacionamento duradouro. Além de administrar o fluxo de receitas e despesas, um casal deve pensar em conjunto sobre como poupar e investir o dinheiro para atingir objetivos comuns.

Embora muitos optem pela criação de contas correntes conjuntas para facilitar a gestão dos recursos necessários para o curto prazo, ao investir, cada pessoa deve ter seu próprio portfólio.

Isso porque, por mais que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) permita a dupla titularidade em contas de corretoras, essa não é uma prática comum no mercado financeiro.

Entre os principais desafios, tem questões relacionadas aos sistemas de cadastro das empresas de balcão organizado, questões regulatórias, como os perfis de suitability, bem como questões fiscais, sobre como será endereçado o informe de rendimentos na conta conjunta, entre outros.O perfil de risco de um casal de investidores: “como ficam os investimentos quando um titular tem perfil agressivo e o outro, conservador?”

Diferença para contas bancárias:

No caso de bancos, as contas correntes e poupança podem ser conjuntas, com amplo acesso a serviços como movimentações, saques e transferências de recursos. Mas quando é realizado um investimento, como a compra de um Certificado de Depósito Bancário (CDB), por exemplo, um dos correntistas precisa ser designado o titular.

Vale lembrar que, em contas correntes e poupanças, bem como produtos bancários como CDBs, Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs), há a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) no valor de até R$ 250 mil por conta e CPF.

No caso de contas conjuntas, contudo, o valor é dividido entre os titulares. “Existe o ‘mito’ de que são R$ 250 mil por CPF, o que não deixa de ser verdade, mas em primeiro lugar vem a conta. Se ela for conjunta de duas pessoas, cada uma receberá 50% do valor devido, independentemente de quem colocou o dinheiro”, diz o planejador financeiro com certificação CFP Marco Harbich.

Com relação à declaração de Imposto de Renda de contas conjuntas, Harbich explica que os dois correntistas devem declarar que são titulares da conta em comum, mas cada qual deve informar sua parte da contribuição.

Planejamento financeiro em dose dupla

Embora os investimentos devam ser feitos de forma individual, é fundamental que o casal defina junto as estratégias para suas aplicações, de forma que persigam os mesmos objetivos.
O primeiro passo, segundo a planejadora financeira com certificação CFP Elle Braude, é montar uma reserva de emergência, aquela parcela dos recursos com liquidez e que pode ser resgatada a qualquer momento.

Elle destaca que a reserva pode corresponder a seis meses de renda – ou de despesas – e deve ser dividida entre as partes. Em outras palavras, a recomendação é de que cada um tenha pelo menos seis meses de sua renda alocada em aplicações líquidas, como o Tesouro Selic.

Destinada uma parcela do portfólio para montar caixa, o casal pode partir para outros investimentos, a depender dos objetivos e grau de aceitação de risco.

No caso de perfis de investidor diferentes, ou seja, se um for conservador e o outro arrojado, por exemplo, Harbich recomenda que, independentemente dos produtos, as duas carteiras sigam as mesmas finalidades.

Além disso, é importante que ambos tenham ciência do portfólio do cônjuge e que conversem frequentemente sobre o assunto, para definir quando aumentar o risco ou o valor investido, por exemplo.

Transparência nas finanças

Independentemente de um casal ter contas individuais ou conjuntas, Elle destaca que um “casamento financeiro” é fundamental.

Segundo ela, o mais importante é entender que, não importa onde o dinheiro esteja, há objetivos em comum. Para isso, é preciso a criação de um orçamento, que permita uma visão das receitas e despesas como um todo.